Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Sherlock – 4×03 The Final Problem (Season Finale)

Por: em 23 de janeiro de 2017

Sherlock – 4×03 The Final Problem (Season Finale)

Por: em

Um dos melhores momentos de The Lying Detective é quando Mrs. Hudson interrompe Mycroft tentando desvendar o que está na cabeça de Sherlock. O irmão Holmes mais velho levou uma dúzia de funcionários do governo britânico para analisar até a poeira do apartamento de Baker Street e tentar entender a obsessão do detetive com Culverton Smith, então Sra. Hudson – a mulher que tenta provar desde o primeiro momento que a conhecemos que não é empregada daquela casa – ri da postura superior de Mycroft, o chama de idiota e encontra o que ele precisava em segundos. A cena funciona tão bem por muitos motivos, ela é engraçada e coloca Sra. Hudson – que se destacou durante todo o episódio – em uma posição privilegiada, mas o que eu mais gosto é que a dedução feita pela Senhora é simples, prática e impulsiona a narrativa.

Bom, The Final Problem é um episódio que precisava urgentemente dessa Sra. Hudson. A personagem marca presença em alguns momentos e, como sempre, nos faz rir ao mandar Mycroft fazer seu próprio chá e ao mostrar que aspira sua casa ouvindo heavy metal – algo muito peculiar mas que faz todo o sentido para ela. Mas o que faz realmente falta na season finale de Sherlock é a simplicidade e praticidade que a personagem mostrou na cena do episódio anterior. The Final Problem é um episódio que escolhe ser denso e complexo desde o primeiro instante, mas que certamente poderia se beneficiar de momentos que não levassem seus personagens tanto a sério.

O cliente do episódio é Mycroft que mesmo relutante acaba entregando o caso de sua irmã Euros a Sherlock e John. A história da irmã Holmes é problemática e cheia de viradas que provam a falta de cuidado de Mark Gatiss e Steven Moffat com excessos, mas basicamente Euros era a criança mais esperta da família Holmes e sua inteligência provocava vários problemas na sua infância como quando ela se cortou para descobrir como seus músculos funcionavam. Mycroft a descreve como “incandescente”, mas Eurus é muito mais do que isso. Seu intelecto a condenou a uma vida solitária e seu único objetivo era planejar uma fulga da sua própria solidão.

Trabalhar com a mentalidade de um personagem não é algo desconhecido para Sherlock, mas com Eurus a série explora outros territórios. Eurus não é um um membro do governo britânico que gosta de dizer que é mais inteligente que todo mundo ou um high functioning sociopath. Nem mesmo Jim Moriarty estabelece um padrão de comportamento para ela. A inteligência de Eurus é o tipo que não permite que ela diferencie uma risada e um choro. Então, o desafio para Sherlock é mostrar que todos os passos da personagem transgridem o que é permitido socialmente e ainda manter sua humanidade porque sua jornada é, acima de tudo, sentimental. O ideal seria manter um equilíbrio entre essas duas características que fazem de Eurus a vilã certa para a série, mas Sherlock se perde diversas ao tentar reconstruir uma relação fraternal.

A motivação essencial de The Final Problem é que Eurus se trancou em seu palácio mental e precisa que Sherlock desvende o mistério do desaperecimento de Redbeard para tirá-la de lá. Essa prisão mental é retratada metaforicamente como uma menina que é a única passageira acordada dentro de um avião que precisa de ajuda para aterrissar. Por mais melodramático que pareça, é perfeitamente plausível que Eurus tenha planejado um plano de fuga ou salvamento desse tipo, mas quando Sherlock e os espectadores chegam a essa conclusão – que ela é aquela menina, que Redbeard não é um cachorro, mas Victor Trevor, melhor amigo de Sherlock, e que ela simplesmente queria a amizade do irmão – nós já passamos por tantos jogos, deduções e viradas que esse desfecho parece cansativo.

Todas as questões propostas por Eurus colocam Sherlock, Mycroft e John entre uma escolha racional ou emocional. Mycroft ou John, quem vai conseguir matar o Governador? Qual dos irmãos é um assassino e merece ser punido? Mycroft ou John, quem Sherlock vai “eliminar” para continuar o jogo? E o mais cruel de todos, fazer Molly se declarar para salvá-la de uma suposta bomba em seu apartamento. Tudo isso, com um efeitos sonoros gravada especialmente por Mycroft para adicionar um pouco mais de drama. Desde o começo, Watson sugere que eles têm que encarar essas dedução como soldados, mas não importa quem eles eram ou que decisões tomassem. Não há ganhadores no jogo proposto por Eurus.

Então, é impressionante que Sherlock encontre um final feliz para essa história. A consequência mais terrível do episódio foi Mycroft levar um puxão de orelha dos pais porque ele mentiu que sua irmã morreu em um incêndio quando na verdade, ela ficou presa durante anos.

Eu entendo que muitas vezes os fãs podem se decepcionar ao ver uma série que gostam fugir do padrão que ela estabeleceu – ter episódios mais sombrios como The Six Thatchers e este, talvez configure numa mudança de ritmo da série. E sim, qualquer episódio de Sherlock apresenta uma qualidade ridiculamente superior a muitas outras séries por aí – a entrada de Moriarty ao som de Queen deixa qualquer um feliz mesmo achando que ele não precisava estar nesse episódio. Mas o problema de The Final Problem não é esse. Sherlock não é uma série maravilhosa porque coloca o detetive mais famoso do mundo enrolado em um lençol no Buckingham Palace (talvez um pouco só). Sherlock é brilhante porque Gatiss e Moffat sabem como contar histórias e a season finale não é uma história bem contada. Eurus é uma personagem interessante, mas que é desperdiçada nas inúmeras tentativas de surpreender o espectador em um episódio que já estava carregado com revelações emocionais.

Outros comentários:  

– A review demorou tanto como uma temporada da série. Semana foi difícil, mas aqui estamos.

– A série não deixa muito claro se Redbeard era só o melhor amigo de Sherlock ou mais um irmão Holmes.

– O P.S. de Mary não precisava estar ali. É um artifício tão usado e a personagem move todo o episódio anterior com sua presença póstuma, então ouví-la mais uma vez só para tentar resumir o episódio e dizer um possível adeus foi desnecessário.

– É difícil saber se esse é o último episódio de Sherlock para sempre. Não há nada confirmado sobre a renovação ou cancelamento. Em entrevista ao Radio Times, Moffat disse que nem ele sabe sobre o futuro da série. De qualquer forma, temos uma longa espera pela frente. Então, obrigada por acompanhar as reviews, deixe seu comentário e até 2025 (possivelmente)!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

×