“Quem quer transparência, quando você pode ter magia?”. A frase do duque de Windsor se referia à opulência da cerimônia de coroação mas certamente pode ser aplicada à própria narrativa de The Crown. Com esse quinto episódio, o foco sai das nuances políticas e volta para a monarquia como instituição simbólica, imagética. E é nesse sentido – o imagético – que a série ganha destaque, nessa tradução da opulência monárquica que a narrativa nos permite conhecer de perto (e sem filtros) em uma sequência de imagens fabulosas, num ritmo envolvente e pleno em si.
Para mostrar, e até colocar em cheque, essa construção, o episódio se baseou nos dois casais “principais”: a Rainha Elizabeth e Phillipe, e o duque e a duquesa de Windsor. O tratamento que o roteiro deu a ambos foi uma colagem de ambiguidades que dinamizou o episódio e garantiu um grand finale justo para os dois. O casal real do passado vive essa busca por um poder e um prestígio, mas quando percebe que a concretização dela se daria em detrimento do amor, desistem, criando uma pequena narrativa tragicômica de muito valor. Já o casal real do tempo presente vive a ambiguidade entre o tradicional e o moderno, uma ambiguidade que eu ousaria dizer ser quase inerente às monarquias desde o pós-guerra. Mais uma vez, a série construiu tudo isso muito bem e integrou motivos, justificativas e relações de causa-consequência bem sólidas (o que não aconteceu tão bem no episódio anterior, no qual a sensação era de que Winston era o protagonista e as motivações eram menos sólidas).
Mas não foi só na narrativa que o episódio foi magistral não. Em termos de linguagem, também houve alguns momentos muito interessantes e coerentes com essa hipersimbolização e essa ostentação da monarquia, que parecia ser a “mensagem” do episódio. Só para exemplificar, a troca de planos entre Elizabeth e seu pai usando a coroa, e toda a sequência da unção, foram momentos nos quais a linguagem visual da série falou muito mais do que todas as palavras do mundo. E é isso, no meu ponto de vista, que diferencia The Crown de todas as outras séries que tratam da realeza britânica: a primazia pela linguagem imagética. Sim, mais do que a abordagem política, mais do que a coerência histórica, mais do que a beleza do texto. A imagem. E foi nesse 5º episódio, o episódio da Coroação, que a série atingiu seu auge até aqui. Vamos ver o que nos espera com uma rainha coroada…
E vamos falar que Claire Foy está arrasando? Fico chocado como ela determina o ritmo da história e mostra toda a ambiguidade monárquica com uma simples troca de olhares. Amém Claire Foy.
E você, gostou da opulência da coroação? Conta pra gente!