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The Crown – 1×10 Gloriana (Season Finale)

Por: em 7 de novembro de 2016

The Crown – 1×10 Gloriana (Season Finale)

Por: em

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Como eu disse na resenha de Assassins, The Crown em sua reta final transformou o colorido em preto e branco, deixando claro que ser da realeza está distante de ser um conto de fadas. O último episódio desta primeira temporada veio para deixar isso bem explicito, contrastando a crise que permanece uma constante no casamento real com a possibilidade de um relacionamento pautado apenas no amor depender da anuência de Elizabeth para acontecer.

Gloriana tem como foco de sua narrativa o relacionamento entre Margaret e Peter Townsend, piloto da Royal Air Force, 16 anos mais velho que a princesa e divorciado – o que contraria os dogmas da igreja anglicana, cuja líder é a Rainha Elizabeth. Se, com 25 ela assumiu o trono Inglês, com essa idade o único desejo da sua irmã era casar com o homem por quem ela sempre foi apaixonada e com que ela conseguia encontrar uma paz, algo que era uma dádiva tendo em vista o seu temperamento intenso e, como a mesma se descreve, transtornado.

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Mas as coisas não se provaram tão simples, já que Elizabeth se viu na mesma situação em que seu pai no passado – quando, por conta de uma paixão, ele destituiu o irmão de todos os títulos e privilégios. Oportunidade decorrente da qual o Rei George fez as filhas prometerem que nunca colocariam nada acima da família – e fiel à essa promessa, a soberana inglesa se vê completamente em um beco sem saída, já que autorizar o casamento também causaria grande repercussão em seu reinado – já que isso implicaria ir contra os valores da igreja e os membros do seu parlamento, ainda bastante conservadores.

Ela também sofre com o fato de estar fazendo a irmã sofrer, já que a felicidade dela seria impedida por causa da sua coroa. Somando-se à isso, Philip vê toda situação com um fio de esperança de que a mulher, pelo menos uma vez, coloque os seus deveres de lado e pense como uma pessoa comum. Tanto ele, como os súditos – representados pela grande mídia britânica – torciam pelo impossível romance da princesa com um pretendente fora dos padrões da realeza.

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O telefonema dela para o tio simbolizou muito bem o que é ser parte da realeza – eles nunca seriam seres humanos completos, sempre dividindo espaço em sua vida com os deveres que contraíram por nascer na casa Windsor. É mais uma lição das muitas que Elizabeth recebeu desde que se elevou à condição de rainha, aprendendo aos poucos – e as vezes de forma dura – a abraçar o seu destino. Destino esse que à incube de decidir o de outras pessoas, nem sempre sendo a felicidade que está no fim do túnel, apenas o dever.

Isso faz com que Elizabeth faça as vezes de antagonista, já que na construção do drama pode ser difícil o espectador compreender e acompanhar as razões que fazem com que ela tome algumas decisões. E o fato de não abençoar o noivado de Margaret e Peter se revela mais um golpe em seu casamento com Philip.  Se a Rainha vai começando a entender cada vez melhor o seu papel, o seu consorte continua completamente perdido. Pelo seu incômodo em viver na sombra da esposa, o reflexo das suas frustrações faz com que a crise em seu casamento passe a ser então uma questão política. É então que os conselheiros reais vêm com a proposta de enviá-lo como representante da coroa na cerimônia de abertura das Olimpíadas da Austrália. Afastá-lo da mulher por meses, com a promessa de que a atenção que lhe seria dada nesta viagem oficial acalmasse um pouco o seu descontentamento e, consequentemente, ajudar na realização pessoal da rainha.

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Depois de ver que a mulher não abdicaria dos seus deveres nem em prol da felicidade da irmã, Peter dá a notícia de que sua viagem havia sido estendida em alguns meses como quem avisa que está dando um tempo no relacionamento. Esse momento ironicamente acontece quando ela está se arrumando para tirar fotos oficiais, onde ela precisa sorrir e mostrar-se completamente altiva, apesar de nós sabermos que por dentro ela  estar sentido algo completamente diferente disso. Philip então dirige para longe e nós terminamos a temporada com a certeza que, pelo menos nos primeiros anos de reinado, a rainha Elizabeth conseguiu aprender as coisas boas e ruins da sua função – mas foi extremamente infeliz em seu casamento.

Como soberana, ela se viu incapaz de se ater aos ensinamentos do seu pai sobre lealdade – sendo a impossibilidade do casamento de Margaret o centro vital e emocional do final da temporada, traduzindo-se em um eloquente exemplo dos valores políticos, sociais e religiosos que permeiam seu reinado, bem como deixa transparecer os problemas de relacionamento dentro da casa Winsor. Gloriana é um agridoce até logo de The Crown.

No viés político, o Gloriana mostrou a eclosão de uma crise diplomática  e a dificuldade de Eden lidar com a situação – dando o prelúdio para a crise com o Egito, que teve estopim a nacionalização do Canal de Suez – obra da qual a Inglaterra foi a principal acionista – e que deve ser um dos principais acontecimentos do início da 2ª temporada, já que juntamente com as forças da França e Israel, o país atacou o Egito – em uma empreitada militar que foi rapidamente encerrada diante da pressão da União Soviética e dos Estados Unidos.

As gravações da próxima temporada já começaram e em 2017 iremos assistir à segunda década do reinado de Elizabeth. The Crown se propõe a demonstrar sem dragões as questões que envolvem um trono, principalmente em na família real mais importante do século 20 – em uma rica e impecável produção. A série é uma aposta arriscada da Netflix, mas que possui um certo magnetismo por ter como personagem central uma pessoa que ainda vive e representa um grande orgulho para os Britânicos. Será interessante acompanhar a história do mundo do ponto de vista de Elizabeth II, bem como a dramatização da sua vida pessoal – a qual nunca saberemos o quão fidedigna está.

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Chegamos ao fim de mais uma maratona! Espero que tenham gostado de acompanhar conosco!


Lívia Zamith

Nascida em Recife, infância no interior de SP e criada no Rio. Vivo e respiro Séries, Filmes, Músicas, Livros... Meu gosto é eclético, indo do mais banal ao mais complexo, o que importa é ter conhecimento de causa.

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita: São muitas!

Não assiste de jeito nenhum: Friends (não gosto de sitcoms)

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