Se tem algo importantíssimo que deixei de mencionar sobre Westworld é a preciosidade de sua trilha sonora. Releituras sensíveis de Soundgarden, Rolling Stones, The Cure, Jonnhy Cash, entre outras lendas do rock, brilham na pianola, ao lado de composições de autoria de Ramin Djawadi, o fera responsável também pela trilha de Game of Thrones. Mas, por que diabos em pleno episódio 6, eu venho falar da trilha sonora? Porque é simplesmente impossível não se emocionar com a versão de “Fake Plastic Trees”, do Radiohead, que abriu o sexto episódio, “The Adversary”. Foi ao som dessa música linda, melancólica e intensa, que acompanhamos o despertar de Maeve.
Esse despertar, já anunciado há alguns episódios, não podia ter sido mais icônico. Ao lado de Felix, Maeve percorre os corredores dos laboratórios, desvendando enfim aquilo que sempre a incomodou: a verdade sobre sua origem. Como numa sessão de terapia, quando descobrimos o ponto que nos levou até ali, a robô vai, a cada passo, juntando novos pedaços da sua criação, da sua vida, da sua existência. E vai unindo as peças ali, naquele caminhar. É bonito como ela, inteligentemente, desvenda tudo como se estivesse no modo análise, sem esboçar qualquer tipo de reação aparente, mas se desfazendo inteira por dentro. Afinal, estamos falando de sentimentos reais, que inseridos em uma robô ou não, provocam sensações muito fortes, por vezes até incontroláveis. Saber que tudo que você viveu não passa de um joguinho criado para entreter adultos de caráter duvidoso não é algo necessariamente tranquilo de se lidar.
Curioso perceber que, bem mais racional que a maioria de nós, humanos, Maeve absorveu o choque de forma bastante prática. Não banal, mas sim objetiva. Talvez porque no fundo já estivesse um pouco preparada para aquilo, talvez porque seu histórico de coragem e percepção bastante elevado produzam reações menos emocionais. Fato é que esse mergulho existencial acaba mostrando não só a inteligência da robô, como sua capacidade de lidar com as adversidades de maneira estratégica. Além de conseguir aliados durante esse processo de autodescoberta, ela consegue também aprimorar características que considera importantes. Esse upgrade promete render grandes reviravoltas na história, uma vez que agora totalmente consciente, Maeve deixou claro que tem um plano e que não vai medir esforços para colocá-lo em prática.
Outro que se revelou bem mais estratégico, foi Teddy Flood, surpreendendo inclusive seu novo melhor amigo, o Homem de Preto. Ao lado do visitante mais antigo do parque, ele viveu uma das aventuras mais sangrentas da série até então e dessa vez (e até que enfim!) como protagonista. Os aliados, cada um com seu objetivo pessoal, seguem firmes na busca por Wyatt e, no percurso, descobrimos mais um pouquinho sobre o labirinto e sobre como ele é apresentado à parte dos anfitriões como uma fábula indígena.
“The Adversary”, frustrando parte das nossas expectativas, não trouxe soluções para as dezenas de mistérios da trama (confesso que isso começa a me incomodar), mas serviu para comprovar que os adversários dos cientistas não serão necessariamente os robôs. Num primeiro momento, eles terão mesmo é que lidar com conflitos enormes que já se formaram lá dentro. Theresa finalmente encontrou o aliado potencial para afastar Ford dos seus planos. Remoendo desde o episódio 2 o passa-fora que levou do chefe em frente a todos os coleguinhas, Lee tem o recalque e ambição necessários para ajudá-la a acabar com o idealizador do parque. Com a chegada de uma nova integrante do Conselho e a ajuda de Lee, Theresa pode estar a um passo de conseguir o seu objetivo. E para nada sair do script, ela acaba descartando Bernard, de quem nunca conseguiu tirar nada de relevante que a ajudasse a desmoralizar Ford.
As descobertas do episódio anterior, levam Bernard a finalmente abrir a guarda e entrar de cabeça na investigação há muito proposta por Elsie Hughes. Nesse processo, ele descobre quase sem querer, um grande segredo que coloca em xeque a confiança que sempre depositou em seu mentor e amigo, Robert Ford. Ao conhecer anfitriões da primeira geração não mapeados pelos sensores do parque e que representam nada mais nada menos que a família do seu chefe, Bernard se depara com mais uma faceta até então desconhecida do cientista: laço emocional com os robôs. Mas não foi só Bernard quem se surpreendeu no episódio. Ford também começa a racionalizar e concluir que algo ali não está sob seu controle e como já conhecemos bem nosso cientista-megalomaníaco-manipulador preferido, sabemos que alguém vai ter uma conta alta a pagar assim que ele ligar os pontos.
O que Bernard não esperava no entanto, é que suas desconfianças estavam focadas no alvo errado. E se não fosse por Hughes, ele colocaria tudo a perder, já que a engenheira conseguiu descobrir uma das pessoas que estava por trás da sabotagem dos robôs. E por falar na engenheira, o que foi aquele final de episódio? Meu Deus, tão inteligente para umas coisas, tão tolinha para outras. Pelo visto, Hughes não assiste a muitos filmes de terror não, né? Que final mais óbvio! Esperava um pouco mais da série.
Críticas à parte, acho que o parque Westworld, depois de “The Adversary”, nunca mais será o mesmo. Personagens centrais finalmente chegaram a um ponto onde não é possível retroceder diante do que já sabem. E isso é ótimo para nós, ansiosos que estamos para “ticar” alguns dos montes de enigmas da série. Alertas ligados, sensores ativados e modo descanso nunca mais. Quem vocês acham que realmente é o adversário nesse jogo? Ford, Theresa, Bernard, os robôs? Conta pra gente!
Imagens: Divulgação HBO
