Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Game of Thrones – 7×07 The Dragon and the Wolf (Season Finale)

Por: em 28 de agosto de 2017

Game of Thrones – 7×07 The Dragon and the Wolf (Season Finale)

Por: em

Seguindo a tradição de últimos episódios mais tranquilos (que só foi quebrada em The Winds of Winter mesmo), Game of Thrones encerrou sua penúltima temporada com The Dragon and the Wolf, que expôs os principais problemas que vimos neste ano: um roteiro raso, previsível, extremamente didático, com soluções instantâneas para problemas complexos, mas uma perfeição técnica e estética incomparável com qualquer outro produto da TV mundial, do passado ou do presente.

Divulgação HBO

Divulgação HBO

O sucesso de uma série depende de muitos fatores, mas existe aquela conta básica em que você maximiza os pontos fortes e esconde os pontos fracos para que seja entendido como um bom produto. Por muitos anos vimos Game of Thrones maximizando suas tramas políticas complexas, seu roteiro incrivelmente bem planejado e seus personagens multidimensionais enquanto guardava recursos para um ou outro episódio de ação que demandasse mais orçamento. A sétima temporada foi uma virada nesse jogo, com grandes investimentos em excelentes cenas de ação (algumas das melhores de toda a série) compensando a queda nos padrões dos demais aspectos.

A grande mágica de Game of Thrones para ser o fenômeno que é não é ser uma série perfeita o tempo inteiro. É saber utilizar os seus melhores recursos na hora certa para causar um impacto positivo. Seu melhor recurso pode ser a surpresa da morte precoce de um suposto protagonista, pode ser uma virada narrativa inesperada que rearrume as peças do jogo, pode ser a construção da jornada dos seus personagens ou podem ser as batalhas, massacres e invasões de que as pessoas se lembram e comentam por anos. Neste sentido, a sétima temporada continua sendo competente em manter a balança positiva. Não dá pra negar: perdemos coerência, complexidade e imprevisibilidade no roteiro, mas as pessoas vão falar da queda da Muralha até 2018, 2019, 2020, ou seja lá quando eles resolverem voltar para o final.

Mas vamos nos ater ao episódio por enquanto. A reunião em King’s Landing tinha tudo para ser um momento de tensão, com tanta gente querendo se matar e o eterno perigo iminente de uma emboscada Lannister. Mas não funcionou assim, porque as interações entre os personagens quebraram totalmente o clima. Bem organizadamente, um de cada vez, vimos Brienne e Sandor sorrindo juntos e orgulhosos da assassina que a Arya se tornou. Sandor chamando Gregor de feio e dizendo que pega ele lá fora. Euron implicando com Theon. Euron fazendo piada de anão. Seria bem apropriado chamar a Cristina Rocha pra mediar a conversa toda.

Divulgação HBO

Mesmo vendo uma amostra do exército dos mortos com os próprios olhos, Cersei não teve nenhum interesse em se aliar com quem ameaça sua coroa. Isso não torna a atitude de Jon Snow menos estúpida. Por agir sempre “com o coração”, Jon já acabou causando diversas mortes, incluindo a de um dos dragões e a dele mesmo. Snow fez toda a missão (que já não era muito inteligente, para começo de conversa) não valer nada no momento em que negou o pedido de Cersei. Colocou em risco a vida de todos os que ele jurou proteger. Tudo isso porque precisavam manter uma conduta irretocável para o novo herdeiro legítimo de Westeros, afinal, não temos mais espaço para personagens complexos, agora o negócio é separar direitinho o lado bom do lado mau.

Tão irretocável Lord Snow, que concedeu perdão para tudo “o que podia” perdoar de Theon, e ainda o considera parte da família com aquele discurso de que ele é meio Stark também, apesar de ter sido responsável indiretamente pelas mortes de Robb, Cat e Rickon… mas ah, ele se arrependeu, então tá tranquilo. Aliás, é muito difícil engolir aquela postura de lealdade e justiça para recuperar Yara, considerando que ele sabe que não funciona sob pressão (seja por causa do trauma ou da própria personalidade), não luta bem e lidera um grupo de vira-casaca que oferece serviços a quem estiver em uma posição mais privilegiada naquela hora.

O diálogo entre Cersei e Tyrion foi o que mais se aproximou do que a série costumava apresentar em outros momentos. Mesmo assim, incomparável com qualquer discurso de Tyrion nas primeiras temporadas. Além de ter tido mais uma ideia estúpida ao se trancar com Cersei e Gregor em uma sala sem proteção, ele não usou nenhum dos seus típicos argumentos matadores ou raciocínios geniais para convencer a irmã. Cersei só fingiu que aceitou a proposta porque fazia parte do seu plano de deixar que os inimigos se matassem ao Norte. Como já diria um velho conhecido, o caos é uma escada, e ela está bem disposta a continuar subindo os degraus.

Divulgação HBO

A relação dela com Jaime já vem mostrando seus momentos de desgaste desde que ele retornou a King’s Landing sem a mão e com uma forma diferente de encarar a vida. Eles acabam sempre voltando para os braços um do outro porque precisam se proteger, porque são viciados naquela relação, e porque sentem que não podem confiar em mais ninguém. Mas chegaram a um ponto em que já não conseguem confiar um no outro também. Eles se traíram, se agrediram, carregam juntos a culpa pelas mortes de Myrcella e Tommen, e chegaram no ponto em que as suas convicções romperam o elo que sempre os conectou. Eles nunca serão inimigos, mas a partir de agora não são mais aliados.

Cersei não foi a única a blefar para se livrar dos inimigos. Sua jovem aprendiz fez um movimento muito parecido em Winterfell. Desde o início da temporada há indícios de um paralelo entre Cersei e Sansa, que vão desde análises de penteado a falas explícitas comparando as duas. Ambas tiveram criações parecidas, sonhos parecidos, desilusões parecidas e sofreram violências parecidas. Ambas tomaram as decisões que tomaram neste episódio para proteger o que sobrou das suas famílias. Isso não quer dizer que Sansa é uma vilã ou que deseja trair Jon, como parte do público acredita. Só que ela aprendeu bem com todos aqueles que passaram pela sua vida, e sim, isso inclui Cersei. Mas também aprendeu com as lições sobre a vida de Ned, com a forma de cuidar de Winterfell de Catelyn, com as artimanhas políticas de Mindinho, e até com os truques baixos dos Boltons. Por isso, Sansa já é uma governante muito melhor que Jon e Daenerys jamais serão.

E justamente por enxergar isso, eu tinha certeza de que ela não estava caindo verdadeiramente no truque de ficar contra Arya. Mas confesso que se alguém me dissesse, há dois ou três anos, que Petyr Baelish seria derrotado por três adolescentes, eu não acreditaria. Foi uma bela cena, e Aidan Gillen encerrou com chave de ouro o trabalho brilhante que fez até aqui, possivelmente a melhor interpretação desta temporada. As diferenças de Sansa e Arya não vão desaparecer de repente, mas elas entenderam que qualquer questão interna deve ser colocada em segundo plano quando estão diante de um inimigo de fora.

Divulgação HBO

Ainda em Winterfell, descobrimos que o Corvo de Três Olhos pode até ver muitas coisas, mas não presta atenção em quase nada. Precisou do Sam mencionar a anulação do casamento de Elia e a cerimônia da união de Lyanna e Rhaegar para ele se tocar que Jon não é um bastardo, e sim um Targaryen. E precisou de uma narração bem explicadinha, do passo a passo sobre a sua concepção, para que ficasse claro que não houve rapto e não houve estupro no passado, e Jon e Daenerys são mesmo parentes e consumaram mais um relacionamento incestuoso da série no presente. Só achei meio esquisito eles darem o mesmo nome que o filho assassinado da Elia para o bebê deles.

Quando percebi que alguém estava espionando o momento romântico entre os dois, esperava que fosse Sor Jorah, mas era Tyrion, com a maior cara de dor de cotovelo. A essa altura do campeonato, enfiarem mais homem apaixonado pela Daenerys é bem desagradável. Só se for pra justificar o tanto de besteira que ele fez nessa temporada, afinal, a gente sabe que quem se apaixona nunca consegue raciocinar direito. Espero que não levem isso adiante no ano que vem, porque o Tyrion merece um desfecho muito mais digno que o caminho que tem seguido por enquanto.

E por fim, a sequência de tirar o fôlego que eles estavam guardando para o encerramento deste penúltimo ato. Depois de anos caminhando, os White Walkers finalmente chegaram até a Muralha e conseguiram atravessar graças ao plano “genial” do Tyrion. Porque se eles não tivessem ido até lá, o Rei da Noite não teria um dragão para derreter tudo e abrir passagem. Se eles não tivessem levado um deles para o dentro da Muralha, talvez o feitiço de proteção também não tivesse sido quebrado. No fim das contas, foram os próprios atos deles que causaram a catástrofe que eles tentaram evitar.

Reprodução HBO

E eu realmente preciso destacar o impacto daquelas cenas. Que fotografia maravilhosa, que uso de cores sensacional. Não só na sequência da Muralha, mas na forma como retrataram o inverno chegando em todo o continente, com a visão de uma King’s Landing gelada e sombria, uma Winterfell mais branca que nunca e Westeros inteira entrando na longa noite de que tanto se falava. Um trabalho técnico de excelência, como o que Game of Thrones apresenta, também é uma forma de contar a história, de dizer coisas além do texto e de nos dar cenas que vão ficar marcadas para sempre.

Porque por mais que a gente sinta falta dos belos discursos e da riqueza do roteiro de antigamente, a série sempre foi muito boa em se fazer memorável sem dizer nada também. Eu não lembro muito do que foi falado na Batalha de Blackwater, mas eu lembro do desenho, das cores, do ritmo. O Casamento Vermelho ainda povoa meus pesadelos como se eu tivesse assistido ontem, mas a única fala que me vem à mente é a do Bolton mandando as lembranças dos Lannisters a Robb. Existe uma vaga lembrança de Jon e Ygritte falando algo sobre a caverna antes que ela morresse, mas a memória daquele plano-sequência bem coreografado da invasão à Muralha ainda está muito viva na minha cabeça. E esta temporada pode ter seus problemas, mas ela contou muitas histórias excelentes, inesquecíveis, emocionantes e vívidas que não precisaram se apoiar no texto propriamente dito. E no fim das contas, o que vale é conseguir algo assim.

Algumas observações:

-Mais uma vez a questão da sucessão foi mencionada. Eles realmente estão preparando terreno para Daenerys engravidar de novo.

– Como assim os mortos não sabem nadar? Como eles amarraram as correntes no dragão?

– Jon/Aegon podia aproveitar que é natural de Dorne pra adotar um figurino mais ousado, que dê mais destaque pros atributos físicos e tal.

– Tirando a Olenna, essa temporada não matou nenhum personagem querido. Ou o massacre vai ser feio na próxima, ou estão preparando um final bem… felizes para sempre.

– Cersei não tira mais a mão da barriga. Será que ela está esperando que alguém faça um chá de bebê?

– Foi bacana ver Jaime tomando uma atitude, mas vamos ser sinceros: ele não é muito querido lá pelas bandas do Norte. Vai ser mais difícil escapar da Arya que do Rei da Noite.

– Aliás, na minha época, quando um Stark dava a sentença, ele executava.

– Será que os mercenários que o Euron vai buscar vão bancar lutar conta zumbis e dragões? Por muito menos os mercenários do Stannis debandaram.

– Jon e Daenerys é uma realidade. A boa notícia é que a gente tem mais de um ano pra tentar digerir isso até a série voltar.

Obrigada a todos que acompanharam as reviews até aqui! Foi muito divertido compartilhar essa experiência com vocês. Aproveite sua última chance para deixar um comentário!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

×