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Mr. Robot – 2×03 eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd

Por: em 26 de julho de 2016

Mr. Robot – 2×03 eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd

Por: em

“O que você acha?”, Elliot nos questiona nos minutos finais do episódio. Honestamente, eu não sei, Elliot. Tudo estava em seu devido lugar – a imersão na psique do protagonista, alucinações recheadas com uma mensagem forte sobre poder e religião, a atuação sublime de Rami Malek – mas eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd simplesmente não corresponde a qualidade estabelecida pela série e os melhores momentos do episódio ficam nas mãos dos novatos, Ray e Dominique, que apontam para um futuro mais interessante para Mr. Robot.

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Um dos motivos que faz eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd sair dos trilhos é a falta de ritmo. Quando uma série é muito boa e consegue chamar a atenção do público e da crítica, que é o caso de Mr. Robot, normalmente pensamos que “quanto mais, melhor”. No entanto, nem sempre essa lógica faz bem a produção. O episódio tem um pouco mais de uma hora e os quinze minutos “extras” pesaram no desenvolvimento da série.

E quando somamos esse ritmo mais lento à repetição de situações, o terceiro episódio fica mais monótono. Um episódio em que Elliot mergulha no uso de drogas e é levado por suas alucinações… já não vimos isso antes? As ilusões de Elliot são sempre interessantes de acompanhar porque, geralmente, mostram camadas da mente do protagonista que não estão evidentes e que conversam perfeitamente com a quantidade de detalhes visuais aplicadas por Sam Esmail, além de ser uma plataforma para Malek esbanjar seu talento. E o nosso herói tinha opiniões muito consistentes sobre religião e poder (Fuck, God!?). Porém, diante dos acontecimentos medonhos que seguiram o Five/Nine é decepcionante ver Elliot preso na sua própria paranoia mais uma vez ou catando comprimidos de Adderall no próprio vômito.

Um exemplo de como eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd falha ao caminhar na narrativa de Mr. Robot é o uso do tema do episódio. Elliot levanta diversas teorias sobre medo, mas a metáfora do kernel panic não funciona como deveria, e a série volta ao tema que guiou os dois primeiros episódios dessa temporada: controle. “Controle é tão real quanto um unicórnio de uma perna mijando no fim de um arco-íris duplo”, Ray resume ao indicar um caminho menos suicida à Elliot.

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Há cinco anos, sete meses, três semanas e dois dias, Ray perdeu sua esposa. Depois de passar pelo período de luto comum, ele começou a conversar com sua amada como se ela ainda estivesse lá porque para ele, ela ainda está presente. Ray não esconde sua amiga imaginária ou tem vergonha de falar sobre, e por isso, acredita que Elliot deve fazer o mesmo. Isso não é normal ou perfeito, mas isso importa? O seu amigo imaginário é um homem onipresente que habita o céu, porque o de Elliot não pode ser Edward? Afinal, a revelação da não-existência de Mr. Robot não foi o fato mais importante da série, mas a decisão de incluir definitivamente esse e outros fragmentos da imaginação do personagem de Malek na narrativa de uma forma clara. Então, o que definiria o tom da série era como a dinâmica entre Elliot e Mr. Robot se desenvolveria. Finalmente, recebemos de um sinal de como isso pode funcionar. É melhor tropeçar na direção correta com Mr. Robot do que tentar exterminá-lo e não caminhar para lugar nenhum.

Nesse ponto, Ray parece certo. Mas ainda é difícil imaginar qual é o verdadeiro interesse do personagem em Elliot. Provavelmente, o hacker possa trabalhar com Ray para migrar o seu site para um lugar mais seguro, como ele mencionou. Aliás, já podemos descartar a possibilidade de Ray ser uma pessoa criada por Elliot? De qualquer forma, a descrição de Ray o definia como um “empresário” e que estaria lá “para ajudar”. Seja lá qual for essa atividade empresarial, a expressão de medo e a situação física do ex-funcionário não mostraram nenhuma ajuda ou “reforço positivo”. Há um lado escuro do personagem e não sei se esse novo relacionamento pode ajudar a situação do nosso protagonista.

Afinal, Dominique está tropeçando na direção correta. Em eps2.1_k3rnel-pan1c.ksd, acompanhamos um pouco da rotina da agente do FBI, que inclui muitas madrugadas acordadas tentando se excitar em chats online ou acompanhar aquele reality show guilty pleasure (quem nunca?). Essas cenas que têm o objetivo de construir o caráter da personagem são solitárias, mas estimulam empatia e contrastam diretamente com a postura da agente em seu trabalho. A imagem que a personagem quer transmitir não é distinta da que ela emite, mas é totalmente diferente da que ela vê diante do espelho naqueles em segundo em silêncio. Dom é competente, cuidadosa e intuitiva. Logo, não parece estranho quando o cartaz da festa da FSociety cai quase acidentalmente em seus braços e ainda responde uma pergunta muito abstrata sobre o fim do mundo. “Are you fucking kidding me?” Não, Dom, não é brincadeira. Mr. Robot é uma série cética, mas que propõe soluções que parecem obra divina.

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É a fuckin ironia da vida. E Angela, certamente, pode contribuir mais a essa teoria porque nenhuma frase motivacional poderia prepará-la para o jantar com o Mestre do Universo, também conhecido como Philip Price. O “todo poderoso” da Evil Corp. entregou um CD com evidências que podem destruir a vida de dois funcionários que decidiram encobrir o vazamento da fábrica que causou a morte de mãe de Angela e de Edward. Mas antes, Price faz questão de mencionar que esses “homens comuns” com uma família maravilhosa e líderes projetos beneficentes cometeram um grande erro, além de outros dentro da empresa que ele comanda.

Ainda assim, não é uma decisão fácil. É mais simples agir contra algo ou alguém quando pensamos que quem está do outro lado é muito diferente de quem nós somos. Mas Angela já habitou todos os lados dessa história e a vida dela não ficou mais leve em nenhum momento. “Você está em pânico agora […] Mas no minuto que você remover emoção disso. Você ficará bem”, Price afirma ao tentar orientar ou coagir a funcionária.

Se ao menos, os membros da FSociety pudessem ouvir o mesmo conselho. A morte de Gideon e, agora, a de Romero não apontam para um futuro mais calmo para o grupo. Então, a situação que já não era das melhores consegue ficar ainda pior. Mobley e Trenton estão desconfiados e amedrontados, enquanto Darlene tenta manter a calma com uma postura mais ácida e fechada. Mas quem pode julgá-los? Assim, como o quadro de Price, é fascinante que essas pessoas tenham mudado o mundo com apenas um tiro no momento certo. Infelizmente, elas não estavam preparadas para as consequências do próprio ato e para esse “novo mundo”.

Outros comentários: 

– As falas de Tyrell no telefonema pareciam um poema.

– Philip Price é um personagem tão incrível que eu só consigo temê-lo.

– Mobley e Trenton debateram sobre a possibilidade das mortes serem uma ação do Dark Army. Sabe quem também se encontrou com o líder do grupo hacker? Isso mesmo, senhoras e senhores, Philip Price! Será que?

“O que aconteceu com o U e o N?” “Essa é uma história para um outro momento!” Oh, Romero 🙁 Eu não estava preparada para te perder.

– Fidelio’s, nome do restaurante onde Philip e Angela se encontram, era a senha para entrar na festa secreta do filme “De Olhos Bem Abertos”.

– O nome da outra pessoa no chat com Dom era “HappyHardOnHenry”, uma referência ao nome do personagem de Christian Slater em “Um Som Diferente”.

– A cena de abertura foi a mais bonita da série até aqui. A música que marca esse momento é “You don’t have to say you love me” cantada por Dusty Springfield.

– E por falar em música… outras ótimas canções no episódio. Dom se arruma ao som de “Highwaymen”, enquanto Angela vai ao encontro ao som de “Just Say The Word”.

O que você achou do episódio? O que faria no lugar de Angela? Acha que essa dinâmica com Mr. Robot vai funcionar? Animados ou preocupados com as futuras descobertas de Dom? Me conte tudo nos comentários!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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