Logo nos primeiros minutos de eps2.5_h4ndshake.sme, Elliot se dirige diretamente a nós, amigos imaginários. “Olá. Eu vejo você. Eu te reconheço.” A intensão do protagonista de Mr. Robot é estabelecer um diálogo honesto e reconstruir a confiança que ele tem nos espectadores silenciosos com quem conversa episódio a episódio. É dessa forma que Elliot se sente seguro para admitir mais uma de suas alucinações e se livrar do filtro que encobria sua vida desde o começo dessa temporada.
A revelação feita por Elliot dessa vez é que ele não estava vivendo com sua mãe, mas em uma prisão. No entanto, assim como o plot twist sobre a não-existência de Mr. Robot na primeira temporada, o momento não é, de fato, uma grande revelação. Elliot sugere que devemos nos conhecer novamente e dessa vez, sermos realmente sinceros nesta relação. Mas nós sabemos quem Elliot é e, mais importante, conhecemos a série. Uma das características fundamentais do personagem é que os conceitos de realidade e imaginação são maleáveis. Para o hacker, realidade não se opõe à imaginação, mas é influenciada por ela. Por isso, a noção que algo estava errado com o comportamento de Elliot e sua moradia já nos incomodava mesmo sem saber exatamente qual era o problema.
As revelaçoes de Mr. Robot nunca vêm para mostrar que a série pode enganar o espectador, mas para integrá-lo completamente na narrativa. É claro que sabemos que é difícil que a linha temporal se torne totalmente evidente como Elliot prometeu (“Por favor, não fique bravo. Essa será a última vez que eu guardo informação de você”). Nós mantemos um relacionamento com Elliot, mas o seu alter-ego nunca foi incluído nesse acordo. O destino de Tyrell é um exemplo de como falta muito para descobrirmos tudo o que acontece na série. Mr. Robot conta que eles assassinaram o ex-funcionário da Evil Corp. porque ele temia que Tyrell faria deles sua próxima vítima. Elliot acredita na história e toma parte de sua responsabilidade, mas apesar das demonstrações de mudança que Mr. Robot tem mostrado, ainda é impossível confiar cegamente na sua versão da história. Mr. Robot existe para proteger Elliot e provavelmente tem algo sobre o Five/Nine que Elliot não está pronto para descobrir.
De qualquer forma, essas revelações vêm em um bom momento para a série e anunciam um avanço importante. Porém, elas não corrigem os problemas da temporada. Elliot continua muito isolado do plot mais relevante deste ano e isso é um pouco frustante. Uma prova disso é que eps2.6_succ3ss0r.p12 se desenolve sem a presença do protagonista. O oitavo episódio é eletrizante, mas para alcançar o sucesso, ele se desapega da figura de Elliot e se apoia em Angela, Dominique e, principalmente, Darlene.
Sem dúvidas Darlene é o grande nome de eps2.6_succ3ss0r.p12 e Carly Chaikin corresponde brilhantemente a todas as expectativas. Era uma questão de tempo que a personagem sucumbisse as pressões exigidas na liderança da FSociety sem a falta de apoio de Elliot ou de Mr. Robot. A influência sufocante do Dark Army e a investigação do FBI eram motivos suficiente gerar uma paranóia nos membros do grupo, mas o retorno não anunciado de Susan Jacobs à sua casa/quartel general da FSociety era o que faltava para os hackers surtarem de vez.
O que vemos depois da chegada da advogada da Evil Corp. é uma sequência de péssimas decisões que resultam na morte de Susan e na revelação da tendência homicida de Darlene, que além de acabar com a vida daquela que ameaçava a sobrevivência da FSociety, indica que destruiu a cabeça de Cisco com um taco de baseball.
Mas se Carly é a grande estrela de eps2.6_succ3ss0r.p12, Portia Doubleday protagoniza o momento mais tocante do episódio, quando em um bar durante a comemoração do 4 de Julho, Angela canta uma versão quase depressiva de Everybody Wants to Rule The World do Tears for Fears. A princípio, a escolha da canção parece um pouco óbvia principalmente com o momento que a personagem vive, uma ascensão precipitada e questionada dentro da Evil Corp. Mas a voz suave e entorpecida imposta por Portia – que combina com a movimentação robótica que ela tem usado na temporada – traz a complexidade necessária para a cena.
Eu acho interessante como Mr. Robot sempre posiciona pessoas para questionar as escolhas de Angela. Isso já aconteceu com o vendedor de sapatos na última temporada, com o pai dela em eps2.7_init_5.fve e com o amigo antigo da família nesse episódio. Essa decisão me parece estranha porque ao decorrer da série, outros personagens tomaram outras atitudes moralmente questionáveis, mas eles nunca enfrentaram nenhuma oposição a suas atitudes. Esses momentos são provavelmente uma extensão das dúvidas que a própria Angela enfrenta ao tentar conquistar o que ela quer. Angela é uma das personagens mais fascinantes de Mr. Robot. Se dominar o mundo é um objetivo banal, Angela mostra que suas razões não são comuns ou compreensíveis. Por algum motivo, acredito que Agela quer ter sucesso em algo que excede seu pensamento ou existência.
A agente DiPierro completa o squad do episódio com pequenos progressos na investigação sobre o Five/Nine. Dominique encontrou o dono da arma usada supostamente para atirar em Tyrell, ex-namorado de Darlene que pode indentificar a moça; e conversou com Mobley, o membro mais assustado que surpreendentemente não entregou tudo sobre a FSociety para o FBI. Mas a exposição da operação Berestain, programa de vigilância americano, atrapalha os planos da agente e pode retardar a investigação.
Dominique está aos poucos completando o quebra-cabeça, mas ainda falta muito para chegar até Tyrell Wellick. Mas se a conforta, nem Elliot ou nós temos total consciência sobre o que aconteceu no ataque. Mesmo nos fazendo conhecer e investigar todas as peças do cenário, é impressionante como Mr. Robot consegue guardar as informações importantes e nos deixa jogar o jogo só com sua concessão.
Outros comentários:
– Outra característica que eu amo em Mr. Robot é que é possível criar compaixão até mesmo pelos vilões da série. É difícil ver Joanna tentando manter sua postura na ausência do marido e ainda ter pessoas jogando baldes de tinta vermelha e não sentir um poquinho de pena.
– Eu entendo que Elliot iria apanhar muito mais uma vez, mas não consigo processar ou aprovar a cena extremamente violenta de Leon.
– Adeus, Ray. Adeus, Craig Robinson que passou de um dos meu queridos em The Office a me assustar horrores em Mr. Robot.
– Ver Mobley, Trenton e Darlene se reunindo no Ron’s Coffe e ouvir o primeiro voice-over de Elliot novamente foi a dose de nostalgia que a série precisava.