Por mais que todos os esforços das autoridades da Colômbia, que sitiaram Mendellin – com a ajuda tática dos Estados Unidos – ainda há muita dificuldade em saber qual logística funciona melhor com um criminoso tão multifacetado com Pablo Escobar. Ele tem o controle, o apoio dos mais carentes por conta das suas práticas populistas e, somando isso à todo seu poderio bélico e financeiro, ele está mais mortal do que nunca para com aqueles que atravessam os seus planos.

O massacre dos policiais em Cambalache foi a prova de que, por mais incisivo que sejam os esforços, o método não vai funcionar. A única alternativa então, depois de ver mais centenas de vidas ceifadas pelo criminoso mais letal já visto na história da America Latina seria trazer de volta o único homem que não teria dedos para lidar com o Patron: Coronel Carrillo.

Caso você não se lembre, na 1ª temporada de Narcos, foi mostrada a formação do Grupo de Busca – Search Block – divisão especialmente idealizada para neutralizar a expansão do império de Pablo, tendo o intempestivo Carrillo no comando. Por mais que tenha sido bem sucedido, as técnicas que trouxeram bons resultados em um período nefasto do país, também foram decorrentes de decisões muito contraditórias deste militar – tanto que ele terminou sendo exilado na Espanha para abafar a repercussão diante da opinião pública.

Mas mais uma vez o presidente Gaviria e Sandoval se veem obrigados à não recuar, além de não haver nenhum outro nome mais indicado para ocupar o cargo vago no comendo das forças contra Escobar. Ele já chega chutando a porta, sem pisar em ovos, vai atrás do elo mais fraco do pessoal do seu nêmesis, quais sejam, os jovens e pobres informantes que habitam os bairros periféricos de Medellin. Nesta hora foi gritante o estilo de Padilha já observado em suas outras obras, como o fenômeno Tropa de Elite, Robocop e também a 1ª temporada de Narcos. Todo o jogo com a moral dos espectadores, que impede uma nitidez entre o bem e o mal está aqui.

Não somente o trato dada a sequência em que Peña observa contrariado o modus operandi de Carrillo – a fotografia, jogo de quadros e tonalidade dos atores em cena, mostram que Padilha conseguiu alcançar um estilo para chamar de seu. Por mais que nós saibamos o final da história – a própria Netflix contou no material proporcional – Narcos faz a balança dos espectadores pender cada hora para um lado, nos fazendo refletir um pouco sobre uma realidade que aconteceu há um pouco mais de duas décadas.

Provavelmente por conta do carisma de Pedro Pascal, Peña ganhou um pouco mais de destaque neste início de temporada. Dos “gringos” ele é considerado o mais local, e por isso há uma relação muito mais próxima dele com os colombianos, seja com os que lutam ao seu lado, ou os que em tese fazem parte do rol combatido pela DEA. Ao se ver confrontado com a execução de um jovem pelos que deveriam carregar consigo a força da legalidade, ele parece acreditar que não é muita a distância que os separa do outro lado – Um herói maniqueista que, mesmo chegando ao limite da sua própria humanidade, é uma importante peça em Narcos.Logo, se o objetivo é matar Pablo, por que não lançar mão de mais recursos, se no final a conclusão será a mesma. É palpável o contragosto dele em aceitar a ajuda de Berna e de Judy, mas se isso significasse poupar balas na cabeça de adolescentes, ele toma uma decisão que pode trazer duras consequências no futuro.

O Cartel de Cali, que tinha um acordo tácito com Pablo, vê na guerra sendo trava em solo colombiano, uma oportunidade para expandir o seu império. Eles, que aparentemente haviam aceitado a vice liderança, começam a juntar suas forças para arquitetar uma queda do Patron. O desafio é fazer isso da forma mais discreta possível, já que os irmãos Gilberto e Miguel Rodriguez conseguiram se estabelecer a aparência de homens de negócios – investindo em bancos e times de futebol. Muito diferente de Pablo, que fez do terrorismo e do medo a sua ferramenta de trabalho. Agora eles têm uma ligação dentro das forças governamentais com Peña, por mais que esse não tenha se corrompido, uma frente de combate paralegal está para ser estabelecida. A diferença deles é que não há lei que os segure.

Our Man in Madrid focou nessa dualidade, tanto que o próprio “mocinho” Murphy – que por um momento acreditou que seria capaz de compactuar com o métodos de Carrillo, não segurou as pontas. Qual o limite que somos capazes de suportar em uma situação em que a saída sempre será violenta? Tentar controlar os danos, para que eles atinjam o menor número de inocentes ou abrir a porteira e deixar a selvageria tomar conta – na máxima da Lei da Selva, onde os mais fortes submeterão os mais fracos? Quem fica e quem corre?

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