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Homeland – 6×02 The Man in the Basement

Por: em 27 de janeiro de 2017

Homeland – 6×02 The Man in the Basement

Por: em

The Man in the Basement foi um episódio muito superior a Fair Game, mas que apenas lembrou (beem de longe) os melhores momentos de Homeland, com twists inesperados, conspirações e Carrie sendo Carrie com tudo de bom e de ruim que a personagem sempre teve.

É verdade que o plot do Sekou teve uma reviravolta ao mostrar o jovem muçulmano como vítima de um informante do FBI, e não mais como um possível terrorista. Mas pelo menos até agora, não dá para dizer “nossa, tomara que o próximo episódio chegue logo para sabermos o que vai acontecer com ele”. Nem ele, nem o amigo x-9, nem a irmã, nem o advogado, nem a mãe são personagens que despertam a empatia do público. A ideia é interessante, mas não pegou ainda… e com outras coisas mais importantes acontecendo ao redor, vai ser difícil pegar. Tende a repetir o caminho da célula terrorista da quinta temporada, que pode até ter sido fundamental para a tensão dos últimos episódios e no destino de Quinn, mas foi uma trama difícil de aturar por meia temporada.

O encontro de Carrie e Saul foi uma cena preciosa, como quase todas as cenas deles dois. Aliás, grande parte das cenas mais marcantes de Homeland envolvem diálogos de Mathison e Berenson, e a decisão de afasta-los prejudica muito a qualidade da trama. Mas vamos em frente. Em um primeiro momento, Saul parece um crápula por incomodar Carrie em sua tentativa de ter uma vida normal, com insinuações, joguinhos e chantagens. A ex-agente até treme o queixinho na sua clássica cryface para mostrar o quanto está ofendida. Só que nada nunca é o que parece, e não demoramos a descobrir que ela de fato está por trás das ideias controversas da presidente eleita.

É uma reviravolta que, apesar de fazer sentido, causa estranheza. Parando para analisar, Carrie tem grandes motivos para questionar os métodos da CIA. Ela perdeu muita coisa por causa da agência, e no último ano – mais especificamente em Super Powers – a vimos ter uma crise de consciência revisitando o seu passado e as ações que a levaram a ser chamada de Drone Queen. Ao mesmo tempo, parece que existem peças desencaixadas nesta parceria com Keane. Eles caíram no jogo de Adal sobre o conflito no Irã, mas esta é uma situação que a qualquer momento pode se reverter de alguma forma, ou terminar em um problema tão grande que vai forçar um entendimento entre as duas partes para ser solucionado.

Eu odeio o que fizeram com Quinn desde a quinta temporada, mas este episódio me fez lembrar o quanto ele é maravilhoso lá no fundo, e o quanto seus sentimentos pela Carrie são, simultaneamente,  a sua ruína e a sua salvação. Ao mesmo tempo em que ele tem um enorme impulso auto-destrutivo causado pelos traumas, pela descrença no outro, pelas limitações físicas e pelas drogas, ele não tem mais os desejos suicidas de outros momentos. E considerando que não há mais ninguém com quem ele se importe, dá pra perceber que a única coisa que o mantém vivo apesar de toda aquela dor, é Carrie. E ela se importar, visita-lo no hospital, leva-lo para casa, para perto da sua filha, confiar nele apesar de tudo, faz com que ele continue tendo forças para seguir em frente em uma vida absolutamente miserável e infeliz. Ele a ama, e odeia as consequências disso – daí joga canecas pelo ar.

A cena em que Quinn finalmente abre a guarda para Carrie e conversa sobre o que aconteceu é tão tocante e tão cheia de significados que dá vontade de chorar só de lembrar. “Por quê?”. Uma expressão tão simples que foi transformada em obra de arte pelas interpretações brilhantes de Rupert e Claire. O “Por quê?” de Quinn foi uma síntese de absolutamente tudo o que ele passou nesses dois primeiros episódios, e dos anos que os antecederam. É a dúvida sobre os motivos que levaram Carrie a salva-lo de uma situação que ele preferia não ter superado. Por quê ela não deixou que ele tivesse paz, enfim? Por quê o trouxe de volta para um mundo que ele despreza, em um corpo que não o obedece mais, o deixando indefeso e inútil? E também é uma dúvida sobre os sentimentos dela, que nunca ficaram claros depois de tudo. Ele já se declarou e se abriu de todas as formas, mas Carrie nunca deu um sinal definitivo de que o ama, embora dê muitos indícios de que sim.

O “Por quê?” de Carrie, e o choro, e o silêncio, e o pedido de desculpas também são uma síntese do que ela sente – em relação a ele e a ela mesma. Naquele momento ela se pergunta se tomou a decisão certa para ele, ou se foi para a sua própria consciência. E se pergunta por quê não consegue definir ou dizer o que sente por Quinn. São respostas que ela não consegue alcançar, é um questionamento que dói só por existir. Ela pede desculpas porque é parte culpada pelo seu estado, mas também seria culpada pela sua morte. Pede desculpas porque acredita que a bipolaridade, os riscos da carreira e a bagagem emocional danificada a impedem de acreditar que ela pode ter uma vida como a que ele propôs no passado, então não há motivos para dizer o que sente por ele. Ou sequer pensar nisso. É trágico porque não importa o caminho escolhido, eles nunca vão encontrar um final feliz.

Algumas observações:

– O episódio foi cheio de referências às temporadas anteriores. O conflito com o Irã, colocando em risco o trabalho de Saul na terceira temporada, o questionamento sobre ataques de drones, tema do primeiro arco da quarta temporada,  o envenenamento por Sarin, e a investigação para encontrar a base da célula, e até a singela lembrança de Carrie vendo Frannie brincando nos joelhos de Quinn.

– Que abertura horrorosa arrumaram. Sdds Obama até ali.

– Eu já disse o quanto eu amo o Max? Eu amo muito. Amo muito o Virgil também, tomara que deem um jeito de trazer ele de volta.

– O FBI está bem empenhado em incriminar o Sekou, mesmo sabendo que ele é inocente. Aí tem coisa, mas o quê?

– Frannie cresceu e agora não tem mais cara de Brody. Eu achava perturbador, mas até que gostava do bebê com cara de Brody.

Pode não ter sido um episódio excelente, mas The Man in the Basement resgatou um pouco a minha fé na temporada. Será que agora vai? Deixe seu comentário e até semana que vem!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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