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Mr. Robot – 2×12 eps2.9_pyth0n-pt2.p7z (Season Finale)

Por: em 23 de setembro de 2016

Mr. Robot – 2×12 eps2.9_pyth0n-pt2.p7z (Season Finale)

Por: em

Quando estava escrevendo a review sobre primeira parte da season finale de Mr. Robot rascunhei um parágrafo sobre a falta de respostas e como isso, na minha opinião, era frustrante. Mas assim que comecei a escrever sobre os acontecimentos do episódio, achei melhor deixar o “textão” de lado. Afinal, a série tinha apresentado bastante material para discutirmos. (In)felizmente, não tomarei a mesma decisão dessa vez.

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Imagino que você, amigo imaginário, assim como eu, terminou o eps2.9_pyth0n-pt2.p7z com uma grande interrogação na testa. Se servir de consolo, nem mesmo Elliot foi capaz de compreender o que estava acontecendo com sua própria história. Mr. Robot optou nessa temporada por segurar informações importantes de seu espectador e não tem problema nenhum nisso. No entanto, preciso questionar essa decisão. Uma das coisas que me cativou na série desde o início é que ela mantinha uma relação honesta com o espectador. Lembro de recomendá-la para amigos e, ao mencionar o grande plot twist do último ano, elogiar como a ideia sempre esteve presente na narrativa. Mas esse relacionamento – construído através da quebra da quarta parede nos voice overs de Elliot – não teve o mesmo efeito nessa temporada.

São inúmeras as razões que poderia citar para a mudança dessa dinâmica – Elliot perdeu a confiança em nós, passamos a questionar mais o que o protagonista apresentava como verdade, Mr. Robot se revelou como um personagem duvidoso -, mas no fim, era evidente que a série decidiu incorporar uma rotina de revelações. Um exemplo disso é que a maioria dos episódios dessa temporada terminaram em cliffhangers o tiroteio na ChinaDarlene batendo em Cisco com um taco de baisebol, o ataque ao restaurante – e a cada capítulo da história, Mr. Robot entregava um pouco e guardava muito mais. Eu entendo que talvez durante a temporada, eu tenha pedido respostas rápidas para questões mais complexas que estavam sendo desenvolvidas aos poucos na série. Mas essa “ansiedade” ou expectativa deveria se justificar com o fim da temporada e isso não aconteceu.

Sim, Darlene está viva. Sim, Tyrell está definitivamente vivo. Sim, finalmente entendemos o que é a “Fase 2”. Porém, durante a season finale, Mr. Robot levanta outra questões e o plot principal da série não se concretiza.

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Mas mesmo com essa ressalva, eps2.9_pyth0n-pt2.p7z é um episódio intrigante e que apresenta conflitos importantes para os personagens da série. Um dos maiores acertos do episódio foi trazer Tyrell de volta e testar sua imagem, que durante a temporada foi usada apenas para sustentar o mistério que pairava sobre seu sumiço, como agente central da ação. Para ser honesta, eu nem sempre consegui entender Tyrell e acho que a descrição que a série fez do personagem falhou em muitos momentos, mas nesse episódio vi mais profundidade nele do que já tinha visto em toda a primeira temporada.

Mr. Robot mostra Tyrell aqui como alguém que acredita em algo além de sua própria existência. Já na cena que abre o episódio, vemos o homem mais procurado dos Estados Unidos clamando por ajuda, pedindo para Elliot ajudá-lo a entender. Tyrell não quer apenas poder pelo poder, ele quer mais, mesmo não entendo o que “mais” pode significar. Elliot/Mr. Robot trouxe propósito para suas ações e Tyrell passou a tratá-lo como um deus que também o elevaria a sua condição de divindade.

Mas como seguir um deus que não reconhece sua própria criação? Elliot nunca quis explodir um prédio da E Corp. onde a empresa está armazenando seus documentos para reconstruir seu banco de dados e inevitavemente, matar algumas pessoas no processo. Ele não quer ser um deus. Aliás, Elliot não pode ter consciência de sua divindade porque ele nem tem total consciência sobre sua existência. O protagonista de Mr. Robot chega ao episódio questionando tudo o que vê. “Uma coisa é questionar sua mente. Outra é questionar seus olhos e ouvidos. Mas novamente, não é tudo a mesma coisa?” ele nos pergunta. “Nossos sentidos são apenas entradas medíocres para o nosso cérebro”. E é aí que Elliot se engana.

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Tyrell não é um fragmento da imaginação de Elliot. Aquela arma não era uma ilusão. Então, o tiro – diferente daqueles do primeiro episódio – foi real. Tyrell fez aquilo que seu mestre mandou e parou quem que poderia atrapalhar o plano e infelizmente, essa pessoa foi Elliot. O que me dá esperança é que o próximo passo de Tyrell também seguiu conforme o plano. Angela – que aparentemente se tornou uma peça fundamental para o DarkArmy – atende uma ligação dele e afirma que ela deve ser a primeira pessoa que Elliot deve ver quando acordar.

Eu não sei exatamente o que isso pode significar para Elliot e como ele vai lidar daqui para frente com a existência do seu alter ego. Mas fiquei muito feliz em ver Angela nos últimos minutos do episódio. Sem dúvida nenhuma, Angela é minha personagem favorita dessa temporada. Além de ter uma jornada excitante, é possível ver o quanto a moça evoluiu nesses dois anos (quer dizer, dois anos para nós e alguns meses na linha temporal da série) e ela é recompensada com uma posição estratégica na nova fase da série.

O outro grande acerto do episódio foi o tom do embate entre Darlene e Dominique. Desde o começo, a agente DiPierro tenta conquistar Darlene e, aparentemente, todas suas táticas estavam sendo destruídas pela hacker que sabia revidar os argumentos ou evidências que o FBI tinha contra ela. Mas o interessante é que Dom se vê em Darlene e acredita que pode tê-la como aliada. “Eu sou ela”, Dom argumenta para Santiago. No fundo, a agente sabe que o discurso barato de “somos de Nova Jersey, vamos ser melhores amigas” nunca funcionaria. Para ter a confiança de Darlene, ela tem que provar que realmente acredita no potencial e na inteligência dela e por isso, a agente decide mostrar tudo o que eles têm sobre o Five/Nine.

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Diante de todos aqueles nomes, fotos e informações, Dom se mostra orgulhosa. Aquele não é só o trabalho da sua vida, aquilo é a sua vida. Então, ela compara a investigação do FBI com um predator, que aguardou pacientemente para matar sua caça. Mas ao desviar o olhar para Darlene, é possível ver uma mistura muito mais complexa de sentimentos. Ela está surpresa, preocupada e temerosa.“Você deve estar brincando comigo!” Darlene fala, mas nenhuma frase pode resumir o que deve estar passando em sua cabeça.

eps2.9_pyth0n-pt2.p7z é um episódio que mostra os problemas que Mr. Robot teve nessa temporada, mas também tem um pouco do melhor que a série tem para oferecer. Nos parece óbvio que a série tem todos elementos para ser espetacular, mas precisa usá-los para caminhar na narrativa. A sensação que fica é que Mr. Robot só precisa aprender a evoluir.

Outros comentários:

– Me dói ter que deixar Joanna para os comentários finais, mas sinto que é isso que a série fez com a personagem também. Eu imaginava que ela se integraria ao plot principal de alguma forma, mas os presentes que ela teria recebido de Tyrell eram, na verdade, de Scott Knowles, que queria fazê-la sofrer. No fim, Scott bate em Joanna e ela arruma uma forma de culpá-lo pela morte da esposa.

– Calma. Eu acho que não entendi a cena pós crédito. Será que Leon… vai matar Trenton e Mobley?

– Eu adoro ver Rami Malek incorporando os trejeitos do Christian Slater.

– Elliot: “Você só está vendo o que está em sua frente, não o que está acima de você.”

– O poema que Tyrell declama para lembrar do seu pai é The Red Wheelbarrow de William Carlos Williams. Esse era o nome que Elliot escolheu para o seu diário.

– As quedas de energia sempre acontecem em momentos chave do episódio, me parece que elas são mais do que simples falhas no sistema elétrico de Nova York ou licença poética. Mas o que?

– Sabe porque você deve ter um poster do Tom Cruise na sua casa? Para destruir a face do ator em um ataque de raiva.

– Trilha sonora: A música que toca nos créditos iniciais é The Hall of Mirrors de Kraftwerk e a letra dela diz muito sobre Elliot. Darlene e Dom são acompanhadas no FBI por The Moth & The Flame de Les Deux Love Orchestra. A música dos créditos finais é We’ve got Tonigh de Kenny Rodgers.

Terminamos aqui mais uma temporada de Mr. Robot, muito obrigada a todos que acompanharam as reviews e até a próxima temporada. Mas antes de se despedir, não esquece de me contar suas impressões sobre o episódio!


Nathani Mota

Jornalista, nerd e feminista. Melhor amiga da Mindy Kaling, mesmo que ela não saiba disso.

Salto / São Paulo

Série Favorita: Sherlock

Não assiste de jeito nenhum: Two and Half Men

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